07 fevereiro, 2011

Se "astrevendo" no mundo do cordel




 Cordel (improvisado) produzido em  homenagem aos alunos do Curso de Português da Universidade de Magdalena, Colômbia, 2010.


Portunhol



Vou tentar fazer agora

Um cordel meio enredado

Pois nele vou misturar

Um portunhol  desajeitado

Não espere muito, amigo
Desse texto mal’amanhado
Pois com ele falo e digo
Versos tortos, mal rimados

O português e o espanhol
São idiomas parecidos
Cada um com seu cada qual
São os dois muito bonitos

Mas fique bem esperto
Você que se diz aprendiz
Pois a forma que se escreve
Não é a mesma que se diz

O “erre” soa distinto
O “jota” bem diferente
O “Ge” não é parecido
Mas com ele escrevemos gente

Digo sempre ao aprendiz
Como melhor pronunciar
As letras Z, R e X
E o V, J e H

Caminhar por essas línguas
As vezes causa enganos
Não é tão fácil quanto parece
Assim pensam muitos fulanos

Na estrada a percorrer
Há  vocábulo  parecido
E  são muito traiçoeiros
Que o melhor é ser sabido
Não deixar se enganar
Do contrário, estás perdido

O primeiro que apresento
Se chamará falso amigo
Também  heterosemântico
É um verdadeiro inimigo

Se falando português
Eu disser sou “esquisito”
Me chamariam de feio
Parecido com mosquito

Se eu falo espanhol
Esquisito é coisa boa
Troço raro e gostoso
Não se encontra assim à  toa

Já falando em português
Ser mecânico é uma sina
Vê o carro do freguês
E o leva a oficina

Na oficina já não pode
O mecânico trabalhar
Se o idioma espanhol
Essa pessoa falar

Pois na linguagem hispânica
Esse lugar é dedicado
Ao cara de muito estudo

Seu doutor, advogado
Executivo, empresário
Com seu salário abastado

Agora escute essa
Com bastante atenção
Falo como professora
Essa é minha profissão

Imagine que um dia
Em minha santa ignorância
Fiz pergunta indecente
Sem mal tento ou arrogância

Conto-lhe o que passou
Pra se caso algum dia
Você estudar espanhol
Não passar tal agonia

Perguntei ao estudante
Que lugar preferiria
Pra morar e trabalhar
Pra viver a cada dia

Para dar uma opção
Disse Cidade, chácara e mar
Logo tive a atenção
Se puseram a me olhar

Já com a cara assustada
Perguntei bem prontamente
Disse alguma coisa errada?
Falem muito claramente

E com uma certa demora
Tive a resposta esperada
Disseram: em chácara não se mora
É demasiado apertada

Bem melhor esclareceram
A palavra em discussão
É parte do corpo humano
Como olhos, nariz e mão

Mas agora me perdoe
A resposta eu não vou dar
Busque logo um dicionário
Falsos amigos é o que há

Ainda tem o tal de tom
A pronúncia e o acento
A cadência e o som
Ah meu deus, que sofrimento

Cérebro, álcool, academia
São tão  fáceis de escrever
Mas assim como democracia
São diferentes  no dizer

Imagine o acento agudo
O til e o circunflexo
Todos juntos numa frase
Qualquer um fica perplexo

Diga agora sem dar nó:
A avó e o avô do Curió
São gente de bom coração
Bem como a mãe, a tia e o irmão

Ah, mas assim são os idiomas
Sempre trazem tanta beleza
Com seus pontos, virgulas ou comas
São de extrema riqueza


Algumas coisas importantes
Não podemos esquecer
Vale a pena estudar
Horizontes estender
Pois estudar uma língua
Faz crescer e aprender

Além disso tem  cultura
Costumes,  curiosidade
Vão além da estrutura
Do status ou da idade
Tem a tal literatura
Traz prazer, criticidade

Vou agora terminar
Essa escrita tão errante
Só lembrando que eu sou
Professora e Estudante

Por isso lhe agradeço
A espera e paciência
Essa honra não mereço
Nem tamanha sapiência
De contar com gente nobre
Não  sei se rica ou se pobre
Mas de grande inteligência

FIM

     Viviane Mattus








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Quem sou eu

É necessário agora que eu diga que espécie de homem sou. Meu nome, não importa, nem qualquer outro pormenor exterior meu próprio. Devo falar de meu caráter. A constituição inteira de meu espírito é de hesitação e de dúvida. Nada é ou pode ser positivo para mim; todas as coisas oscilam em torno de mim, e, com elas, uma incerteza para comigo mesmo. Tudo para mim é incoerência e mudança. Tudo é mistério e tudo está cheio de significado. Todas as coisas são 'desconhecidas', simbólicas do Desconhecido. Em conseqüência, o horror, o mistério, o medo por demais inteligente. Pelas minhas próprias tendências naturais, pelo ambiente que me cercou a infância, pela influência dos estudos realizados sob o impulso delas (dessas mesmas tendências), por tudo isto meu caráter é da espécie interiorizada, concentrada, muda, não auto-suficiente, mas perdida em si mesma. Toda a minha vida tem sido de passividade e de sonho". Fernando Pessoa (1888-1935)