21 março, 2011

Era uma vez... E ainda será!



Nesse fim de semana foi  realizado no Cipó, comunidade pentecostense, uma Formação em Aprendizagem Cooperativa promovida pelo Programa de Educação em Células Cooperativas- PRECE. Participar desse encontro motivou a criação desse texto que nasce de minhas observações discretas e silenciosas.  Aqui vocês não encontrarão castelos, príncípes e princesas, ou dragões. Não. Essa é uma história real contada sob a perspectiva ingênua mas verdadeira de alguém que não cansa de se surpreender com essa narrativa sem fim.
Era uma vez o sertão, um juazeiro e sete amigos e suas esperanças. Quando chego ao Cipó e me deparo com alguns dos  personagens que iniciaram a tragetória do PRECE,  fico me perguntando se eles tem consciência do furdunço que causaram em nossas vidas.  Será que eles sabem que cada um de nós, herdeiros de suas dores e esperanças, carregamos um pedacinho deles dentro de nós? Começar uma história como essa não é fácil. É necessário esperar pacientemente que a semente vingue e dê seus frutos. Em 1994 o contexto educacional não era, nem de longe, favorável para esses sete jovens estudantes. Mas eles iniciaram, mesmo sem ter  ideia alguma de onde isso iria dar, uma revolução que chegaria às comunidades vizinhas, às escolas públicas e à Universidade.
Era uma vez um município castigado pelo descaso político, uma casa de fazer farinha e alguns estudantes e suas esperanças. Em 2003, jovens inquietos com suas próprias histórias colheram um pouco dos frutos que já nascera no sertão e iniciaram uma modesta revolução no município de Pentecoste. Numa terra onde somente os priviegiados tinham acesso à Universidade Pública, esses estudantes quebraram o velho e doente paradgma que castigava nossos jovens. Agora o filho do agricultor, do comerciante e do pescador  também tinha acesso ao ensino superior público e gratuito.
Era uma vez Apuiarés, Canafístula, Ombreira, Estrela D’Alva, Malhada, Providência, Minguá, Serrota, Núcleo G, Fortaleza, Quixadá. Era também as Escolas Populares Cooperativas (EPCs), Estudante Ativo e Estudante Cooperativo, Movimento em defesa da escola pública, Aprendizagem Cooperativa UFC (COFAC), Agência de desenvolvimento local (ADEL) etc.
É difícil mensurar o quanto aquele primeiro passo dado em 1994 revolucionou várias vidas fadadas ao descaso. Vendo os mais de 150 jovens que se encontravam no Cipó nesse fim de semana fiquei a refletir sobre a importância que cada um pode exercer em suas comunidades. Eles acordaram com o primeiro cantar do galo, enfrentaram uma longa viagem nos desconfortáveis bancos do velho pau-de-arara e resistiram a mais de doze horas de intenso trabalho de formação. Por que? Vou arriscar: por tudo que já aconteceu nos últimos 16 anos e por tudo que ainda está por vir. Por que eles acreditam em alguma coisa parecida com justiça, empoderamento e mudança. Por que inclusive seus sonhos individuais são coletivos.  Acredito que não seja mais possível deter essa avalanche que resistiu a tantos anos de luta. Suas raízes já estão profundas e tendem a sustentar por muito tempo essa pequena revolução. 
Se ainda merecemos receber alguma benção, será a de prosseguir.  
Era uma vez, e ainda será, muitos estudantes, suas comunidades e corações carregados de esperança!

Por Viviane Matos

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Quem sou eu

É necessário agora que eu diga que espécie de homem sou. Meu nome, não importa, nem qualquer outro pormenor exterior meu próprio. Devo falar de meu caráter. A constituição inteira de meu espírito é de hesitação e de dúvida. Nada é ou pode ser positivo para mim; todas as coisas oscilam em torno de mim, e, com elas, uma incerteza para comigo mesmo. Tudo para mim é incoerência e mudança. Tudo é mistério e tudo está cheio de significado. Todas as coisas são 'desconhecidas', simbólicas do Desconhecido. Em conseqüência, o horror, o mistério, o medo por demais inteligente. Pelas minhas próprias tendências naturais, pelo ambiente que me cercou a infância, pela influência dos estudos realizados sob o impulso delas (dessas mesmas tendências), por tudo isto meu caráter é da espécie interiorizada, concentrada, muda, não auto-suficiente, mas perdida em si mesma. Toda a minha vida tem sido de passividade e de sonho". Fernando Pessoa (1888-1935)