Ser mulher é para Sabina uma condição que ela não escolheu. Aquilo que não é conseqüência de uma escolha não pode ser considerado como mérito ou como fracasso. Diante de uma condição que nos é imposta, é preciso, pensa Sabina, encontrar a atitude certa. Parecia-lhe tão absurdo insurgir-se contra o fato de ter nascido mulher quanto glorificar-se disso. Num de seus primeiros encontros, Franz disse-lhe com uma entonação diferente: Sabina, você é uma mulher. Não compreendia por que ele lhe participava essa novidade no tom solene de um Cristóvão Colombo que tivesse acabado de encontrar as margens de uma América. Só mais tarde compreendeu que a palavra mulher, que ele pronunciava com ênfase especial, não era para ele a designação de um dos dois sexos da espécie humana, mas representava um valor. Nem todas as mulheres eram dignas de serem chamadas de mulher.
Trecho do livro A Insustentável leveza do ser, de Milan Kundera
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