Há momentos em que alguns sentimentos parecem não caber dentro da gente, sejam eles bons ou ruins. Hoje, 08 de abril de 2011, estamos gravemente feridos. Feriram nossa alma, arrasaram com nossas esperanças, laceraram nossa criança, essa que ainda insiste em viver dentro de nós, assentada ao lado do velho baú interno onde guardamos as lembranças da escola, da rua, do rio, do açude, do pé de pitomba no quintal da vizinha, da pracinha, da capelinha, do elástico, das cantigas.
Aos doze anos eu já usava o cabelo de lado, já tinha abandonado a partinha e ensaiva os primeiros passos de salto. Na mochila eu levava as marias chiquinhas, o chiclete, o diário com cadeado, as canetas coloridas e meus livros e cadernos. Depois de arrumada, devidamente organizada, eu sentava na calçada para esperar as meninas da rua lá de trás, que sempre chegavam pontualmente para nossa leve aventura de descer a avenida em direção à escola. Na escola tinha o "fazer hora" pra entrar na sala, tinha a troca de recados, tinha o desespero das provas, as pescas, as notas, tinha o recreio, o dindin de côco queimado, tinha os professores, a MATEMÁTICA e o Português, tinha os amigos, os chatos, os nerds, as patis e os paquerinhas, as paixonites. Tinha tanta coisa...
É. Aos doze anos dá tempo fazer muita coisa, dá tempo de ser feliz, de ser triste também, de brincar, de ter dúvidas, de achar os adultos chatos, dá tempo de fugir de casa, arrumar a mochila e dormir agarrada com ela, no seu quarto, aquele que você ainda vai dormir até entrar na faculdade. Ainda dá tempo de assistir desenhos, de desenhar sonhos, de andar de bicicleta, aquela lilás que eu esquecia em todo canto. Chega no colégio de bicicleta e volta a pé pra casa. Há hábitos que nascem, crescem, se desenvolvem e só morrem junto com você, mesmo. hummm Esqueci o que deveria escrever no próximo parágrafo...
Enfim, aos doze anos é possível fazer muita coisa mas aos 26, 40, 70, com sorte, 90 anos dá tempo fazer muito mais. Dá tempo "virar" adulto, andar de bicicleta, achar sapato de salto alto muito chato, continuar usando partinha sob a alcunha "franginha", renovar as dúvidas, sair de casa sem precisar fugir, alías, depois da faculdade nossa casa passa a ser nossa fuga mais deliciosa. Ainda dá tempo de realizar os sonhos e se alimentar deles pro resto da vida. As vezes, dá tempo ser feliz.
Mas quero mesmo é falar dessa dor quase indizível dentro de mim. Tristemente gerada pela lamentável notícia que figurou nos jornais nas últimas 24 horas em nosso país. O triste infeliz matou as doze crianças e deixou gravemente ferida a menina sentada ao lado do baú interno, pés ligeiramente nervosos. Embaçou minhas lembranças. O que sentir? O que fazer com essa dor? Jogar pragas? Rezar para que haja inferno e céu? Lamentar, lamentar, chorar, escrever... ah... Não tem amenizado muito.
Mas, adiante. Se é pra frente que se anda, andemos pois. A cada dia nascerão novas dores e alegrias, é assim que se vive. É como já escreveu Mateus nas escrituras: [...] porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.
Por Viviane Matos
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simplesmente d+, vc conseguiu expressar com palavras o sentimento de muitos, inclusive o meu!
ResponderExcluirAmo seus textos!
Obrigada, Ive, por acompanhar meus textos. Cada um leva um pedacinho de mim e são escritos com muito carinho. Gracias...
ResponderExcluirVivi, o seu blog é muito especial pois vc expressa um pouco de quem vc é: sensibilidade, criatividade e poesia.
ResponderExcluirBjo e obrigada por compartilhar sua dor que também é a nossa como nação...
Gracias,niña... Fico feliz que tenha gostado do blog. Em relação a esse texto, tratei de um sentimento coletivo. "Estamos tristes, mas não desamparados". bjo!
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