10 maio, 2011

A questão da leveza


Sabe desses livros que possuem a gente desde a primeira página lida? Espero que saiba. Como esse blog tem vestido a capa de informativo/diário/depositário de letras, peço licença para postar uma bela dica de literatura: A insustentável leveza do ser, romance escrito por Milan Kundera. Não quero me jogar na difícil tarefa incumbida aos críticos literários. Não tenho embasamento, paciência, nem estômago para tanto. Quero apenas deixar uma ligeira impressão pessoal acerca de uma leitura deliciosa e instingante.
A insustentável leveza do ser é uma dessas obras que te assustam logo nos primeiros parágrafos, quando joga diante de suas pupilas o questionamento "Como condenar o que é efêmero?"  São 300 páginas de questionamentos do ser/não ser, amor/ódio, leveza/peso. Para viver essa trama, Kundera dá vida a alguns personagens dos quais irão se destacar Tereza, Tomas, Sabina e Franz. Além destes, também ganha vida e importância nessa obra a voz do próprio narrador, neste caso, narrador observador. Realmente são muitas observações, tanto externas - concernente ao contexto da invasão russa em Praga, quanto internas- quando o narrador dá seu parecer sobre os conflitos dos personagens. Não menos importante que esses pontos há também as brechas que o narrador deixa para que o leitor navegue um pouco pela filosofia. Vez ou outra ele nos abre uma porta filosófica e nos enche das mais ricas questões concernentes à vida. 
Pessoalmente considero esta leitura indispensável. Os que acreditam que a literatura pode contribuir para a formação do ser deverão considerar esta obra essencial para compor uma biblioteca pessoal. Para aqueles que não acreditam "nesse negócio de formação do ser" poderão desfrutá-la da mesma maneira e encontrarão um belo romance para as tardes ociosas de domingo.  Para acompanhar, poderá assistir ainda ao filme que leva o mesmo nome do livro, filme de Fhilip Kaufman.
Logo abaixo deixo alguns trechos que, particularmente, me chamaram atenção enquanto degustava essa obra.  Alguns dizem respeito as falas dos personages, outros traduzem as observações do narrador. 
Por Viviane Matos


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Quem sou eu

É necessário agora que eu diga que espécie de homem sou. Meu nome, não importa, nem qualquer outro pormenor exterior meu próprio. Devo falar de meu caráter. A constituição inteira de meu espírito é de hesitação e de dúvida. Nada é ou pode ser positivo para mim; todas as coisas oscilam em torno de mim, e, com elas, uma incerteza para comigo mesmo. Tudo para mim é incoerência e mudança. Tudo é mistério e tudo está cheio de significado. Todas as coisas são 'desconhecidas', simbólicas do Desconhecido. Em conseqüência, o horror, o mistério, o medo por demais inteligente. Pelas minhas próprias tendências naturais, pelo ambiente que me cercou a infância, pela influência dos estudos realizados sob o impulso delas (dessas mesmas tendências), por tudo isto meu caráter é da espécie interiorizada, concentrada, muda, não auto-suficiente, mas perdida em si mesma. Toda a minha vida tem sido de passividade e de sonho". Fernando Pessoa (1888-1935)